Vale da estranheza

Esse é um assunto que volta e meia me vem à cabeça. Mas, por qual razão? Bem, os motivos são vários na realidade. Seja no meu consumo de mídia, pela minha navegação na internet ou então até mesmo na vida real, o tal chamado "Vale da estranheza" sempre se mostra uma hora ou outra.

O curioso disso é como ele é retradado em várias formas de entretenimento. Filmes, séries, animes, jogos, todos eles têm um aspecto principal idêntico na maioria das vezes: O terror.

Eu não sou um cara que curte terror

não, nada disso, muito pelo contrário, eu sou do tipo que prefere assitir uma comédia romântica à ter que assitir um filme de terror. Mas, esse sub-gênero (e outros como ele) me atrai. Isso é algo difícil de explicar, porém tenho certeza que não sou o único a pensar assim: Apesar de dar calafrios, eu tenho uma curiosidade que aumenta cada vez mais.

A minha primeira exposição ao vale da estranheza foi, provavelmente como muitas outras pessoas, com o meme do senhor incrível.

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É óbvio que esse meme não é a melhor representação do Vale da estranheza, mas ele já é uma boa demonstração do que ele pode ser. O sentimento que imagens do Vale da estranheza proporcionam é o de… desconforto. Pelo menos no meu caso esse é o sentimento. Algo que está errado, de alguma forma, e você consegue perceber, porém, ele também te lembra algo que não lhe é estranho, mundano, comum. Esse conflito gera esse desconforto esquisito.

Esse meme ficou popular, e por consequência eu consumi muitos vídeos no youtube contendo esse meme, fazendo assim com que o algorítimo me recomendasse vídeos contendo temas relacionados e afins. Então, eu foi exposto à um outro gênero similar ao Vale: Os espaços liminares. Depois eu comento mais sobre eles.

Apesar disso, eu, por algum motivo que só Deus sabe, tenho um interesse nesse estilo de terror, e em outros estilos similares/derivados dele.

Isso me torna alguém que gosta de terror mas só não quer admitir? Provavelmente. Mas estamos na internet e são poucos os que querem ser coerentes por aqui.

A presença do Vale da estranheza na mídia que consumo

Jogos

Uns meses atrás, eu comecei a jogar Silent Hill, um clássico do Playstation 1. O jogo constantemente te dá calafrios por toda a gameplay. É um ótimo exemplo do que é possível fazer mesmo tendo diversas limitações. No caso, um exemplo de como fazer alguém infartar.

Devido às limitações da época, existe uma presença fortíssima de compressão de alguns assets, como por exemplo, as texturas e os efeitos sonoros. No caso das texturas, em alguns momentos é difícil até mesmo dizer se o que tá na sua frente é uma mancha de sujeira, uma queimadura ou então até mesmo sangue ressecado. Literalmente o seu cérebo é quem vai decidir da hora.

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Outra coisa boa a se comentar é a visão extremamente limitada. Isso é uma limitação do próprio hardware do Playstation, mas a equipe que fez Silent Hill contornou isso e transformou em parte da gameplay. E olha, se tem uma coisa que me assusta, é não saber se o que tá na minha frente é um ser humano, ou outra coisa que provavelmente não tá afim de conversar.

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Infelizmente eu perdi o meu save do jogo, eu estava na seção do parque de diversões, por conta da frustração de ter perdido o save e também por preguiça de ter que jogar tudo de novo, eu acabei não jogando mais. Porém, esse jogo tem o meu respeito. Ele tem pouquíssimos jumpscares, a maior parte da gameplay ele simplesmente ataca a sua ansiedade e te deixa apreensivo, mas ainda assim ele sabe dosar, e muito bem, quando ele deve fazer o seu coração bater um tanto mais rápido.

Animes

Mais recentemente foi lançado na Netflix a adaptação do mangá Dandadan, mas eu não o conheci por trailers ou por que me foi recomendado na home da Netflix. Eu fui apresentado à esse mangá por meio de um youtuber que acompanho, o Naythf.

No vídeo que ele comenta sobre Dandadan, o Naythf fala sobre vários aspectos do mangá, como por exemplo os temas abordados e gêneros da obra. O curioso para mim foi a parte de terror do mangá. No maior estilo Junji Ito, as partes de terror focam (e muito) na estranheza. Não sei dizer se chega a poder ser considerado algo do Vale, mas no mínimo chega perto.

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Uma outra aparição de algo que me lembra o vale da estranheza foi no anime Chainsaw Man, no caso em uma de suas finalizações de episódio. Para ser mais exato, na 5ª finalização.

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Sei que a intenção não era exatamente o Vale, mas ainda assim não consigo assistir essa finalização sem fazer essa comparação.

Todo o cenário e a ambientação em que os personagens estão me lembram também os Espaços Liminares. Não seria uma surpresa para mim se essa semelhança fosse intencional, afinal, tanto o anime quanto os Espaços Liminares ficaram em alta +/- na mesma época.

Espaços liminares

Os espaços liminares tomam um rumo semelhante ao Vale, porém ele se diverge em um ponto: Na ambientação.

A ambientação dos espaços liminares é bem característica, são lugares que você espera que vá ter algo ou alguém por lá, mas, não há nada. Somente o que foi deixado por lá.

Sinceramente esse gênero de terror é o que mais me dá medo, por quê diferente de um alien vestido de ser humano e um cachorro assassino sem pele, um espaço liminar é perfeitamente possível na vida real. Na realidade eles não são possíveis, eles existem.

Essa é a parte que mais pega nos meus nervos. O fato de você não só ver ou achar, mas até mesmo de você ter alguma lembrança com o local. Como por exemplo, um parque aquático abandonado. Apesar de nunca ter ido a um pessoalmente, até mesmo eu fico com calafrios em ver algo como isso:

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Não tem nada de errado com o local em si, nem com a imagem, porém, ainda assim, algo parece estar errado.

Uma explicação dada por muitas pessoas na internet é a de que o motivo desse desconforto vêm do fato de você esperar vem alguém na foto, por ser um local público e por você sempre ver um local como esse, populado.

A verdade é que cada pessoa tem uma reação à espaços como esses, no meu caso eu sinto calafrios, quase como se tivesse algo a mais na foto, mas que eu não estou enxergando, para outras pessoas, é só uma foto de um lugar vazio.

Mas sem sombra de dúvidas, uma das modas da internet relacionada a esse tema que mais me intrigou foram as Backrooms.

The Backrooms

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Tudo começou com um post na aba paranormal do 4chan, a mensagem do usuário em si não tinha nada de mais, porém a resposta é uma coisa completamente a parte.

If you're not careful and you noclip out of reality in the wrong areas, you'll end up in the Backrooms, where it's nothing but the stink of old moist carpet, the madness of mono-yellow, the endless background noise of fluorescent lights at maximum hum-buzz, and approximately six hundred million square miles of randomly segmented empty rooms to be trapped in

God save you if you hear something wandering around nearby, because it sure as hell has heard you

E é com essa resposta que nasce um fenômeno na internet, um ARG, e claro, uma fandom.

O que mais me deixou intrigado foi a semelhança dos ARG's de The Backrooms com a SCP Foundation. Cada sala em The Backrooms tem um padrão, um método a seguir para conseguir fugir, e claro, algum tipo de anomalia presente. Seja ela uma criatura humanoide ou até mesmo um sorriso flutuante.

The Backrooms ficou tão popular que ultrapassou o gênero de Analog Horror (o meu gênero favorito de terror). Diversos criadores de conteúdo fizeram vídeos comentando sobre, teorizando, fazendo gameplays de alguns jogos com esse tema.

Kane Pixels

Esse carinha fez as Backrooms simplesmente explodirem.

Durante a onda de vídeos sobre as Backrooms, os vídeos dele se destacavam (e muito) entre todos os outros. Seja por qualidade técnica ou por ambientação, os vídeos que ele produzia (e produz até hoje) são de cair o queixo.

Ele não só conseguiu fazer uma combinação de Analog Horror com The Backrooms, como fez isso beirando a perfeição.

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Foi basicamente dos vídeos dele que surgiu a inspiração de diversos jogos que se vê por aí na Steam ou Itch.io.

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Analog horror

Bem, já que eu mencionei ele, por quê não comentar sobre?

Assim como The Backrooms, esse gênero ficou extremamente popular uns tempos atrás. Começando uma febre com vídeos do universo de FNAF, poís é, FNAF. A maior parte desses vídeos giravam em torno de serem fitas de uso interno da empresa - Fitas de treinamento, relatórios gravados, filmagens de segurança - e que não eram feitas para serem consumidas por pessoas não-autorizadas.

Mas sempre, de alguma forma, alguém conseguia acesso às fitas e colocava as gravações na internet.

A parte mais interessante de alguns desses vídeos era a parte técnica, muitos deles eram quase que um "olha só o que eu sei fazer".

Pois é, esse tema ficou saturado beeeeem rápido. Mas, algumas pessoas viram potêncial nesse estilo de terror, e decidiram criar universos próprios, tendo como uma base o horror analógico.

Coisas como Nephthys Media, que exploravam um horror cósmico, começaram a surgir. O que foi um fator que me fez ter interesse nesse gênero.

Nephthys Media

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Apesar de não lembrar de praticamente nada do Nephthys Media, uma coisa que não tem como eu me esquecer é a atmosfera presente nele, é algo que me lembra os Espaços Liminares. É um desconforto constante e a impressão de que tem algo a mais que eu não estou enxergando.

Pode se dizer que esse analog horror em específico é o responsável por eu ter um certo medo de astros.

O enredo gira em torno de entidades que habitam os astros e em seus planos. Como disse eu não lembro de muita coisa, mas ainda assim é algo que eu recomendo.

The Mandela Catalogue

Outro que ficou extremamente popular, mas que o criador perdeu a mão.

Ele explora a bizarrice que são Doppelgängers, e pelo menos no início da minisérie, consegue fazer isso muito bem até.

O maior problema do Mandela Catalogue é que o seu criador acabou enjoando da própria obra e quis fazer dela algo "maior". Vamos dizer que ele voou muito perto do sol e acabou estragando a minisérie, pelo menos para mim, eu já não tenho o mínimo de interesse por ela depois do 2º capítulo.

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Uma coisa que pode ser aprendida com o caso do Mandela Catalogue é a seguinte: Se a sua obra se tornou popular por conta da ambientação e do mistério que gira em torno de algo quase que no estilo Lovecraft de absurdo, não transforma ela em uma minisérie de terror adolescente.

The Walden Files

Esse me dá arrepios só de lembrar.

The Walden Files é um ARG que tem inspirações em FNAF e em The Mandela Catalogue. Porém, só somente inspirações, ele é uma obra que não só se destaca como também elevou o padrão do gênero de Analog Horror.

Ele genuinamente me dá medo. Medo ao ponto de que eu só consumi ele por intermédio de um youtuber, o Pombo Atômico e de dia na maior parte das vezes.

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Ele também é extremamente gráfico e sonoro. Não é algo que eu recomendaria para a minha namorada por exemplo.

Mas a história que é contada… Olha, faz valer a pena. É com um dedo de FNAF, mas contada de uma forma coesa durante toda a obra e sem entregar fria e sem bandeja. Do início ao fim a sua curiosidade é instigada.

É uma ótima obra para se ver no Halloween. E talvez uma ótima obra para não assitir enquanto você está comendo alguma coisa.

Fin

Bem, isso é tudo o que eu tinha a comentar por agora. O halloween está chegando e eu quis dar os meus 5 centávos aqui.

Te vejo no próximo post!